Resenha: O Torreão por Jennifer Egan

Jennifer Egan é uma autora como poucas, sua escrita não é nada previsível e ela consegue prender o leitor de modo tão suave que você só se dá conta de quão poderosa é a narrativa dela quando você acaba o livro e nota que ficou uma noite inteira acordada para terminar de lê-lo.

Título: O Torreão
Autor (a): Jennifer Egan
Editora: Intrínseca
Páginas: 240
Ano: 2012
Na Europa Oriental, um misterioso castelo resistiu a centenas de anos, apoiado no orgulho e na tradição de uma família. Até que Danny, um cínico nova-iorquino de trinta e seis anos que raramente vai a algum lugar que não tenha conexão wi-fi, chega para ajudar seu enigmático primo a reformar o castelo e a transformá-lo em um hotel de luxo. Mas as coisas começaram a ficar estranhas. Uma baronesa sinistra, um trágico acidente em uma piscina mal-assombrada, um traiçoeiro labirinto subterrâneo... Quando o pânico toma conta de Danny, ele descobre que a “realidade” pode ser algo em que ele não consegue mais acreditar.

Danny não é do tipo de cara que consegue ficar muito tempo sem contato com a sua realidade virtual, mas após alguns acontecimentos ele se viu sem opções e se sentiu impulsionado a aceitar a proposta do seu primo Howard e mudar-se para o castelo na Europa que ele estava reformando com o intuito de transformá-lo em um hotel, cujos serviços seriam os mais diferenciados do mercado hoteleiro. Contudo, as coisas entre ele e Howie não eram nada fáceis, principalmente para Danny, já que na juventude ele havia tomado uma atitude errada com relação a seu primo que não permitia que ele se perdoasse totalmente. E é dessa forma que ele chega à propriedade de Howie: desconfiado, desconfortável e doido para voltar à Nova York. Entretanto, com o passar dos dias ele vê que a realidade naquele castelo é pior do que ele imaginava, pois além de conhecer uma baronesa, cuja existência beira a surrealidade, ele descobre segredos que podem colocá-lo em um perigo inimaginável.

A leitura de ‘O Torreão’ foi um das mais surpreendentes que tive esse ano. A narrativa de Jennifer Egan é tão diferenciada que desperta certa confusão no leitor com sua desconstrução dos estereótipos da literatura, fazendo o ato de ler se tornar uma experiência surreal. Para começar temos Danny, um homem de idade adulta que não consegue aceitar que os anos já se passaram, que ele não é mais tão jovem e que, de certa forma, é um fracasso em tudo que faz. A princípio pode parecer que ele não se importa em ter uma vida superficial, mas no decorrer da narrativa, vemos que ele é um personagem profundo, além de cômico, cínico e com tendência a ter habilidades um tanto quanto, inusitadas.

De início a trama parece ser narrada em terceira pessoa pelo próprio Danny, porém ao longo do livro percebemos que a voz que conta a história pertence a um narrador onisciente. Dessa forma, a autora aos poucos nos revela os segredos da construção do seu enredo que se caracteriza principalmente pelo fato de ser uma “história dentro de outra história” e passa a dar enfoque a outros personagens de “O Torreão” ao alternar suas vozes no livro de modo que além de ver o que se passa no castelo, temos vislumbres de lembranças de Ray, um presidiário que estuda escrita criativa e que encontra nas palavras um porta para fugir da realidade que o cerca, bem como, uma forma de estar mais próximo a Holly, sua professora que desperta sentimentos que ele acreditava estar há muito adormecidos.

Mas não é só isso, Jennifer Egan utiliza o seu personagem Danny para fazer uma forte crítica a sociedade atual que está cada vez mais dependente da tecnologia e com isso aproveita para dar a ele uma abstinência de conectividade que confere aos pensamentos e atitudes de Danny certo ar de alucinação. O que faz com que nós, leitores, passamos o tempo todo desconfiados do que acontece e da realidade que os personagens apresentam. Contudo, ao contrário do que os – vários – comentários sugerem, esse não é um livro de terror e talvez nem de suspense, mas sim um livro que explora as facetas psicológicas dos personagens fazendo com que a trama nos passe uma falsa sensação de que essas características estão presentes na narrativa.

Imagino que vocês devam estar achando ‘O Torreão’ confuso e não vou mentir, ele é. Entretanto, é uma confusão gostosa, viciante e que a gente acaba se encontrando em meio as páginas. E foi por ele ter tantas qualidades que eu não consegui refrear a decepção que senti quando fechei o livro e vi que a autora deixou – o que eu acredito ser – pontas soltas, já que ela não nos leva a um desfecho bem amarrado a respeito de personagens importantes como, o Ray e a Holly, e acaba deixando a sensação de que o que vimos foi apenas um retrato do cotidiano deles e de que ainda há muito para acontecer na vida deles em decorrência das atitudes que eles tomaram no livro, mesmo que isso esteja fora do alcance dos nossos olhos. O único personagem que autora apresenta um final mais concreto é o Danny, mas ainda assim, ela consegue deixar suspeitas no leitor de que as coisas não são tão simples como aparentam ser...

Isso me deixou mais frustrada do que eu sou capaz de dizer, porém não posso esquecer de todo o brilhantismo com o qual ela escreveu o livro inteiro só porque eu não concordei com o final. Sendo assim, é certo que eu o recomendo, só deixo algumas ressalvas a respeito de expectativas criadas com relação ao final do livro, bem como, ao “pseudo” terror e suspense que os grandes jornais comentaram que é possível encontrar em ‘O Torreão’.

A perda atingiu Danny por completo novamente, só que dessa vez não veio acompanhada de berros e chutes – só daquela sensação de querer tanto, tanto alguma coisa, que a gente nem consegue acreditar que a força da nossa vontade não vá fazer com que a coisa apareça, ou volte. Pág. 81

Playlist:


--- Isabelle Vitorino ---

5 comments

Ana Luisa 3 de setembro de 2013 às 08:50

Participando! \o/

Rosana Apolonio 5 de setembro de 2013 às 14:35

Eu nunca tinha lido nenhuma resenha sobre esse livro, mas lembro que há alguns anos "A Visita Cruel do Tempo" foi muito bem recomendado pela blogosfera. Pelo que você falou a respeito dessa história, acredito que vou me identificar com esse clima frenético que ela tem. Só fiquei um pouco receosa com esse desfecho quase que aberto do livro. Espero que isso não seja um grande problemas para mim, já que eu não sou muito fã de livros que não tem um final bem redondinho. ;)

Vinícios Costa 6 de setembro de 2013 às 16:05

Desde que li "A Visita Cruel do Tempo" que me apaixonei pela escrita única da Jennifer Egan e fiquei com vontade de ler "O Torreão", porém fiquei com um pé atrás por ter medo de não gostar e todo o encanto pela autora ir por água abaixo. Mas, pelo que vi na sua resenha, o livro parece ser extremamente interessante e a questão das facetas psicológicas dos personagens devem ficar incríveis nas mãos da Jennifer!
Já quero comprar o meu HAHAH

Ana Luisa Ricardo 7 de setembro de 2013 às 19:27

Nunca li nada da autora, mas fiquei "um pouco" curiosa, vamos ver, quem sabe eu dê chances a esse livro.


Beijos!

aninha 10 de setembro de 2013 às 18:12

não sei se eu o leria agora, como vc bem disse, eu o achei confuso (?) e o personagem sem carisma. pra falar a verdade, eu não entedi bem aonde a autora quis chegar =/ até a capa é confusa. rsrs claro que aparecendo a oportunidade, eu leria sim, mas não agora.

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